Análise sobre o "trabalho escravo".

(Foto: Rogério Paiva/Divulgação)

Gente é o seguinte, todos nós temos visto aí essa avalanche de reportagem sobre o tal do trabalho escravo no navio Magnífica (quem não viu pode acompanhar a cobertura nesse link), hoje vou falar sobre o que diante a minha experiência no Fantasia eu considero verdade e o que não posso afirmar com certeza. Até por que até os meus parentes estão mandando essas reportagens pra mim no Facebook como quem diz "meldels menina... que diabos tu fazia lá? tá pedindo pra morrer?" Antes de começar eu gostaria de dizer que eu gosto da vida a bordo, apesar de tudo isso que acontece, quero sim fazer outro ou outros contratos por que querendo ou não esse trabalho dá uma grana boa.  

Minha fonte para esse post será essa matéria do G1 onde eles falam sobre os depoimentos dos 11 tripulantes que desembarcaram do Magnífica. 

"Xingamentos, turnos de trabalho de até 22 horas e mulheres assediadas sexualmente. Estes foram alguns relatos " - Xingamentos eu nunca recebi diretamente, nunca trabalhei mais que 11 horas e meia, nunca me assediaram sexualmente, mas moralmente sim, um dia durante o meu ultimo mês a bordo o meu supervisor olhou pra minha cara e disse pra eu não me animar muito porque ele ia fazer aquele meu mês um inferno (e fez). 

"...Alguns deles contaram que perderam 14 quilos..." - Durante os meus nove meses a bordo do Fantasia eu perdi 15 Kg e ainda cheguei em casa amarela com uma anemia profunda. 

"...Vigon ainda conta que os profissionais que atuavam no navio precisavam pegar comida escondida nos restaurantes, já que "a comida do refeitório era 'indegustável'..."A comida do Fantasia não era TÃO ruim assim, tinha dia que estava um horror, mas tinha dia que era bom, a questão não é a comida ser ruim ou não, a questão é você comer sempre o mesmo cardápio durante nove meses... tem hora que o seu estômago recusa. Mas não vou entrar em detalhes sobre as refeições aqui pois já fiz isso nesse post. Eu mesma comia escondida lá umas máfias que vinham da cozinha.

"...Sob o medo de serem advertidos por causa do "roubo" da comida, o ajudante de garçom relata que a maioria dos colegas preferia comer macarrão instantâneo do que os alimentos que eram servidos para os funcionários. "Não tínhamos fogão, mas as torneiras do navio davam opção de água quente ou fria. Então, colocávamos [o macarrão] dentro de luvas e depois colocávamos as luvas dentro da água quente. Assim fizemos várias vezes", confessou." cozinhei miojo no saquinho de lixo (limpo é claro), mas é por que eu gostava de miojo e tinha preguiça de ir no Crew Mess pra cozinhar decentemente (colocar dentro de um potinho com água fervendo e esperar amolecer), eu preferia fazer na cabine mesmo pois me poupava o tempo de andar até o crew mess, mas isso não quer dizer que eu ia morrer de fome se não comesse o tal miojo. 

"...Com uma experiência profissional em um outro navio da mesma companhia, ele disse que foi surpreendido no cruzeiro por uma carga diária de trabalho superior a 11 horas, que destaca ser diferente do combinado por contrato..." Tenho vários amigos do restaurante que alegam trabalhar bem mais que as 11 horas e dizem que é comum, tanto que o Maitre geralmente dá (ou teria que dar) um período off. Se isso ocorre ou não eu já não sei dizer, afinal não é o meu departamento, mas tenho visto muitos amigos desembarcando de navios diferentes alegando estar trabalhando bem mais que o normal.

Começamos a fazer trabalhos extras não-remunerados e a exercer atividades que caracterizavam desvio de função, como lavar refeitório, restaurante, janelas e portas. " - Quando eu cheguei no Fantasia eu não fui fazer o trabalho de Ass. Cabin logo de cara, primeiro me colocaram de Cleaner por dois meses e só depois eu fui fazer o que meu contrato dizia. Os Cleaners homens faziam Gangway coisa que nem de longe é coisa de cleaner... já trabalhei na máquina de raio x, cuidando das malas dos passageiros, coisa que também não é coisa de cleaner, entreguei toalhas na piscina coisa que também não é coisa de cleaner (ou melhor... nem cleaner eu era né), mas pra ser bem sincera tinha alguns trabalhos que eu pedia PELO AMOR DE DEUS pra fazer... assim eu saia da rotina chata de ficar limpando a mesma coisa 11 horas por dia.

"... Inicialmente, Matsuura destaca que os funcionários eram obrigados a assinar folhas de ponto adulteradas, com carga horária definida pela própria empresa..." - Matsuura que trabalhou comigo lá no Fantasia está corretíssimo, uma vez o chief housekeeping falou pra mim que eu estava atrasada e que eu tinha acabado de acordar, falei pra ele olhar no relógio ponto a hora que eu tinha batido o cartão e ele disse que o relógio era mesma coisa que nada. Já fui chamada no office para levar uma comida de rabo por não bater o cartão nos horários 'certos' e vi a mocinha lá adulterando o meu ponto na minha cara!

"...Atuando como camareira, a paulista Roberta Inturn, de 27 anos, diz que mesmo trabalhando até 18 horas seguidas, chegou a ser chamada de "preguiçosa e vagabunda"... - A Roberta que também trabalhou comigo no Fantasia esta correta também, essa história de preguiçosa e vagabunda acontece muito principalmente com os brasileiros, somos conhecidos por não gostarmos de trabalhar, conheci muito brasileiro vagabundo mesmo a bordo mas a maioria era de gente honesta e que estava lá fazendo o melhor que podia, o que acontece é que os chefes nos vêem como os orientais que baixam a cabeça, brasileiro sabe os direitos que tem e não se cala, se são 11 horas, são 11 e pronto! Por isso somos MUITAS vezes taxados como preguiçosos e vagabundos.

"Foram verificados relatos de jornadas exaustivas, ausência de folgas, ausência de intervalos e agressões às integridades físicas e psíquicas"... - Folga não existe mesmo, mas isso está no contrato né gente, quando saímos daqui todos sabemos que não tem dia folga, aí não dá pra reclamar. Intervalo vai depender da tua posição, eu como cleaner tinha uma hora de almoço só durante essa jornada, mas se eu ligasse para o chefe pedindo meia hora pra ir pra cabine comer alguma coisa ele não negava. Como assistente já era um horário diferente e tinha uma folga maior.

Ainda em outro site, dessa vez no site do R7 encontrei outro depoimento:

"... Cheguei a trabalhar até 3h30 e recomeçar o turno às 7h, isso sem um dia de folga sequer durante meses e ainda sofrendo fortes pressões..." - Já vi acontecer, e com frequência, em dia de desembarque os homens, tinham que terminar seus horários e voltar uniformizados para fazer a maletagem. Quem não quisesse fazer levava warning.

A companhia alega que todos os navios da temporada foram vistoriados, coisa que eu não duvido, durante o tempo que estive a bordo vi muitas inspeções mesmo e inclusive fui instruída a mudar minha maneira de trabalhar durante a visita da ANVISA por algumas vezes. A companhia se 'péla' de medo do governo brasileiro e  fazem tudo para mascarar as coisas erradas que acontecem.


Gente, pra esse texto não ficar muito longo eu vou colocar a minha conclusão em um post diferente.
Quem quiser ler CLICA AQUI

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